Primeiro o princípio

       É muito bom dar para a geração que está chegando uma boa vida, mas se olharmos a nossa volta e a nossa frente, não podemos falhar em ver que existe algo mais importante que ajudar os rapazes a curtir sua vida sem responsabilidade, dando tudo pronto para eles. 

     Se “olharmos a volta” O que vemos? Guerras, assassinatos e mortes brutais, com toda a selvageria dos tempos primitivos. Uma religião totalmente ignorada por pessoas ditas civilizadas, mas com completa falta de autocontrole, influenciada pela coletividade e abertas aos mandos e desmandos de ditadores.

        Nós temos plena consciência, consciência essa que foi adquirida pelas experiências no mundo a nossa volta. Sabemos que o que é preciso um CARATER correto no povo, para assim sermos livres, vivermos pacificamente e sermos uma feliz nação. Nos “já alertamos antes”, mas estamos fazendo algo sobre isso? 
     Os poderes inescrupulosos do mal já estão trabalhando em meio ao nosso povo. Felizmente a letargia humana é difícil de mudar, existe um senso comum apático na maioria dos nossos compatriotas. As atitudes modernas como a pressa e a agitação, bem como o crescimento da comunicação entre as nações do mundo, traz um senso de inquietação e com isso o perigo deste contágio. As mentes tem ficado suscetíveis a todo tipo de hipnose coletiva. 

      Há sinais atualmente entre o nosso povo do aumento da falta de autocontrole o que era uma qualidade de nossa nação. O número de assassinatos e suicídios, o desejo de sucesso, bem como a mórbida e histérica atitude que atrai multidões a um funeral ou a chegada de um ator de cinema. Todas as setas apontam para esta direção. 
     Essas são características ruins em um povo que pode, de fato, está fadado a enfrentar graves crises nacionais no futuro próximo, onde o autodomínio e a lealdade serão vitalmente essenciais. Isto recai sobre nós do escotismo.
      Portanto, para levantarmos enfrentarmos isto tudo nós temos primeiro que nos corrigir, passando a ensinar CARATER a essa próxima geração, para assim manter e desenvolver o autocontrole e o senso de serviço comunitário que é marca do bom cidadão. Nos queremos educar a juventude de uma maneira prática fazer o melhor das suas vidas. “Onde o contentamento vive o comunismo morre.” 

     Eu tenho usado a palavra “educar” ao invés de “ensinar”. Eu quero dizer que nós temos que inspirar cada jovem individualmente a desenvolver estas qualidades por eles mesmos e não impor sobre eles meras instruções. Estas alterações são ruins, ainda mais sobre o velho terreno dos nossos princípios, os quais tem sido os mesmos desde o começo do Movimento. Quando começamos o escotismo era tudo feito sobre um simples esquema que com o passar dos anos se tornou um monte de interpretações e linhas paralelas adicionadas a o escotismo, isso traz o risco de se tornar sobrecarregado. E a ideia do método original se perde de vista.
     Surgiu o perigo de o Movimento se tornar muito acadêmico, exigindo altos padrões de eficiência, testes e tudo mais. Temos que ter cuidado com isso.

       Para os escotistas eu gostaria de levantar serias considerações sobre os planos de adestramento em duas áreas principais: A Saúde Física e Caráter. 
     Sobre Saúde física, esta não se dá através de series de exercícios, mas ao contrário, acontece em atividades e jogos escoteiros que tem um apelo real dos jovens e também pela sugestão prática de sua auto responsabilidade. Onde ele sozinho zela por sua saúde, através de uma dieta correta, descanso e exercícios.   
     Sobre caráter, este é desenvolvido através da atração do jovem pelo campo e pelas atividades de patrulha. No campo o Chefe Escoteiro tem sua grande oportunidade de observar e entender as características individuais de cada jovem, aplicando assim a direção necessária para seu desenvolvimento de forma individual. Enquanto os jovens por eles mesmo formam seu caráter através da vida nos sub campos, com disciplina, desenvoltura, engenhosidade, autossuficiência, habilidades manuais, pioneirias, navegação, espirito de equipe, conhecimento da natureza, etc. Tudo isso pode ser aprendido sob a direção alegre e simpática de chefe escoteiro bem formado.

     A patrulha é  a escola de caráter para a pessoa. Para o Monitor isto se da através da prática da responsabilidade e das atividades de liderança. Para os demais escoteiros ensina-se subordinação ao interesse coletivo, a abnegação e o autocontrole tudo envolto no espírito de grupo cooperativo e da boa camaradagem.

     Nós temos centenas de milhares de garotos e garotas em nossas mãos neste momento e existem outras centenas de milhares mais que precisam de treinamento, se pudéssemos ao menos encontrar líderes capazes o bastante para trabalhar com eles e fazer atividades suficientes para traze-los para nosso grupo.

     Existe um campo imenso aberto para nós e que pode nos levar a um caminho de grande desenvolvimento. Não precisamos ficar deprimidos com contratempos ou desapontamento, esses são muitos, e aparecem de tempo em tempo. Este é  simplesmente o tempero do nosso progresso, faz-nos crescer mais que os nossos problemas e olhar exatamente onde estamos. Nós temos que nos investir da nossa nobre tarefa, que só precisa de um pouco mais de coragem e persistência para assim alcançarmos o sucesso. Vamos fazer isso com o prazer da aventura em meio a estes tempos perigosos, construir com a ajuda de Deus uma raça valiosa de jovens cidadãos para a segurança, honra e bem-estar do futuro de nossa nação.



E disse B.-P. ..

     Eu temo que a perigosa existência de um tipo de escotismo sintético tome silenciosamente nosso treinamento, mudando a forma natural descrita no Escotismo para Rapazes. Eu gostaria de solicitar que os Comissários distritais prestem atenção nisto durante suas inspeções e que corrijam esta tendência ao se deparar com ela.
     Por “Escotismo sintético” eu entendo como o sistema escoteiro obscurecido pela sobreposição da forma natural por regras e literatura instrutiva, tomando conta do original, ou seja, a transformação do jogo ao céu aberto em uma ciência escoteira e um currículo escolar para o rapaz.
Agosto de 1936