O Aperto de Mão Escoteiro

    


     Durante toda minha vida de escoteiro tive o aperto de mão escoteirocomo parte da minha vida, como forma de demonstrar confiança e identificar escoteiros honrados. Isso seguirá da mesma forma. Por muitos anos eu coloquei uma antiga antiga estória em meus livros e adestramento, pois acreditava ser verdade.

     Como B.-P. em seu relatório que virou livro “A queda de Prempeh.”, venho aqui pedir desculpas a aqueles que de uma forma e outra destorceram a história. O que estou narrando nesta postagem vai desagradar a muitos e outros nem importância darão, seguirão a contar a estória do aperto de mão deixando de lado a história real . Meu intuito é dar acesso a fatos e ao final você vai decidir como vai lidar com os fatos e os princípios escoteiros referentes ao aperto de mão.


       Primeiro vamos conhecer a história sobre o famoso encontro até agora narrado romanticamente como a origem do nosso aperto de mão. Então vamos parar de prosa e ir ao assunto.

     A luta contra os Ashantis, nas terras da atual Gana, já vinha se arrastando havia muito tempo. Em um documento justificando a luta contra aquele povo o governo inglês trás algumas informações importantes como: (Trechos do documento.)
“Desde a data em 1873 e 1874, este distrito da África, o qual eu creio ser extremamente rico em recursos naturais, e provavelmente rico em recursos minerais - foi devastado, destruído e arruinado por disputas intertribais, e especialmente pelo maldoso governo Ashanti.”

“Acho que o dever deste país em relação a todos esses territórios selvagens, os quais somos chamados a exercer algum tipo de domínio, é estabelecer, o mais cedo possível, a “Pax Britannica”, e forçar essas pessoas a manter a paz entre si. Fazendo que qualquer que seja a perda de vidas em nossa expedição, possa produzir esse resultado. Estas perdas não será nada, se comparada perda anual de vidas que continua enquanto estamos fora.”

““Os britânicos nunca serão escravos”, e os britânicos estão tão peculiarmente envolvidos com a justiça, a qual também não deixará ninguém em estado de escravidão, se pudermos evitar.
Os escravos em algumas partes do mundo são moeda local; em outros, são os animais de carga ou máquinas; muitas vezes, sua vida é impiedosamente difícil.”

     Vemos logo de início que as razões que levaram os Britânicos para aquele lugar nos parecem corroborar com tudo. Trago essa parte para poder desde o primeiro momento ressaltar o trabalho do fundador em todo o processo. Quando lemos o “Escotismo para Rapazes”, vemos claramente a todo tempo essa preocupação com o a coroa britânica. O patriotismo que permeia todo os escoteiros pelo mundo. 
     Sob uma visão contemporânea a B.-P. isso era patriotismo, alguns podem dizer hoje em dia pela sua visão politicamente correta que aquela era uma visão imperialista, o que não estão de todo errado.

Mapa da Expedição


      Os líderes dos Ashantis não eram tão amistosos quanto contam. Me refiro a líderes porque era uma família que estava a frente e Prempeh era um deles. E falando neles nos documentos de justificativas traziam alguns fatos interessantes.
“A expedição foi necessária também para a proteção de outras tribos. Todas as tribos da vizinhança dos Ashantis viviam aterrorizadas com os assassinatos dos seus reis. E porque em várias ocasiões destruiam as vilas, uma após a outra. As quais eram tribos que já haviam procurado nossa proteção.
As finanças da colônia sofreram durante anos, mantendo as forças militares protegendo as tribos ao nosso lado. Acho que já disse o suficiente para mostrar que não cumpriríamos nosso dever de proteger se não tivéssemos insistido em interromper este tipo de coisa.”

      Os ingleses traduziam “Kumanssi” como “terra da morte” o que na verdade no dialeto fula ou fulane significa local de descanso. Eles levaram para esse lado devido certas constatações como B.-P. relata:

“A cidade possuía nada menos que três locais de execução; um, para execuções privadas, dentro do palácio; um segundo, para decapitações públicas, no campo de parada; um terceiro, para sacrifícios fetichistas, ficava na aldeia sagrada de Bantama.”
      
Sacrificio humano em Bat` ama


     Como práticas animistas os Ashantis sacrificavam pessoas a todos os elementos da natureza, seus deuses. Além de manter a escravidão, eram produtores e comerciantes de escravos, escravizando os povos que estavam sob a proteção da coroa britânica. Algumas descrições dos locais de sacrifício Ashantis eram muito impactantes.

      Resumidamente, então, podemos considerar como os principais motivos e objetivos da expedição:
  1. Acabar com o sacrifício humano.
  2. Acabar com o comércio de escravos e os ataques.
  3. Garantir paz e segurança para as tribos vizinhas.
  4. Estabelecer o país e proteger o desenvolvimento do comércio.
  5. Receber a indenização de guerra.

Vamos pular aqui para o encontro de B.-P., mas antes deixaremos um breve sumario de fatos nesse meio tempo:

      Levaram meses para a preparação da expedição, convocando e preparando os envolvidos.
      Durante esse tempo os Ashantis continuavam a atacar as tribos protegidas pelo império.
     A via de transporte de produtos no interior de Gana ainda não tinha sido estabelecida e todos sofriam com a situação.
      O tratado de paz que estava sendo proposto pelos ingleses geraria: renúncia de todos os direitos sobre várias tribos vizinhas, abertura do país ao comércio, fim do sacrifício humano, indenização de guerra de 1.400 quilos de ouro e a estrada de Kumassi a Prah seria construída e aberta.
      Foi estabelecida linha telegráfica entre a base de Prashu e a Cidade do Cabo, pela força protegida pelo esquadrão de B.-P.
Colocando as linhas telegraficas 

     Estamos falando muito sobre as motivações do império e tudo mais que envolve essa expedição. As vezes me perco nas informações por achar tudo importante e trazer o verdadeiro background das ações de nosso fundador e fazer jus a sua moral e reputação. Baden-Powell foi responsável por organizar as forças de proteção tanto das cidades sob comando inglês bem como levar uma força armada junto com os enviados do governo a Kumanssi, com o objetivo de evitar morte de civis. E o mais importante estabelecer um caminho entre o interior e a capital. Trabalho executado por vários grupos de trabalhadores que apoiavam os britânicos. No todo era um grupo enorme de pessoas sob a proteção dos militares comandados por B.-P.
      
      Durante o caminho B.-P. enviou seus escoteiros, vamos chamar assim os batedores, pois o fundador sempre gostou de trocadilhos entre os escoteiros como conhecemos hoje e os batedores militares. Então, os escoteiros de B.-P. tiveram contato com os guerreiros Ashantis chegando a levar até o rei os termos de rendição, os quais foram respondidos usando ditados Ashantis. “O Rei dos Ashantis é o senhor do céu e da terra.” E recusavam as propostas pacíficas. As forças britânicas estavam sempre rodeadas de observadores Ashantis os quais informavam o rei de cada passo dado por eles.
      Várias tribos ao verem a superioridade Inglesa foram se somando no caminho e tirando proveito das facilidades que estavam chegando, como estradas e comunicação.
Prempeh entediado


      Na segunda quinzena de janeiro B.-P. chega a Kumanssi e sitia a cidade. Bloqueando os guerreiros e deixando as pessoas comuns passarem com comida. Alguns ataques em pontos isolados aconteceram e em alguns os Ashantis tiveram sucesso.
      Ao chegar em Kumanssi em 19 de janeiro de 1896, ele descreve o que vê.

“E lá está Prempeh, entediado, enquanto três anões vestidos de vermelho dançam diante dele, em meio à grande multidão de espadachins, heraldos da corte, abanadores e outros oficiais. Ele parece uma figura real quando se senta em um trono elevado com um enorme guarda-chuva de veludo sobre ele, na cabeça uma tiara preta e dourada e em seu pescoço e braços grandes contas douradas e pepitas.”

      Às 7 da manhã do dia 20 de janeiro se iniciou a cerimonia de rendição dos Ashantis. A função de Baden-Powell de proteger e evitar o derramamento de sangue havia sido cumprida. Como um excelente comandante ele fez tudo e mais um pouco do que lhe foi atribuído.
      Assumiu a cerimonia o Governador Senhor Maxsuel e ao seu lado sentaram os Coronéis Francis Scott (Cavaleiro da Ordem de Bath) e o Coronel Kempster a ordenança do Governador.
      Prempeh e sua mãe a Rainha, foram trazidos e obrigados a se humilhar em frente as lideranças políticas em um altar improvisado por caixas localizado em frente ao altar real. Trouxeram todos os objetos de valor a fim de simbolizar a indenização de guerra. As praças de sacrifício foram queimadas e centenas de crânios foram retirados e enterrados. Alguns relatos falam em milhares de ossadas resultado das práticas animistas canibalísticas dos Ashantis.
     
Cerimonia de rendição dos reis Ashantis

     Depois da rendição a cidade se encheu de moradores comuns que estavam retornando a Kumanssi. E algumas notícias de forças rebeldes por outras cidades foram relatadas. As ações de repressão duraram mais alguns dias.
      O Rei, a Rainha e os chefes Ashantis foram banidos e exilados de sua tribo no dia 26 de janeiro, sob a proteção de B.-P. foram enviados para a Cidade do Cabo sendo deportados e exilados nas Ilhas Seychelles em fevereiro de 1896.
Embarque do Rei Prempeh para Seychelles


      Baden-Powell deu aos prisioneiros um tratamento digno, não continuando a humilhação e os maus tratos aos líderes Ashantis. Esse relacionamento foi tão profundo que B.-P. além de aprender muito sobre aquela cultura pode assimilar alguns princípios africanos que até hoje perduram, como as danças e os gritos de guerra escoteiros. Possivelmente aprendeu como os Africanos se cumprimentavam, daí vindo o aperto de mão esquerdo dos escoteiros.
      Vivendo nas Ilhas Seychelles, Prempeh se tornou Edward sendo educado e doutrinado pelos Ingleses, os quais mantinham o Imperio Ashanti sob dominação. Ao retornar para suas terras em 1926, a realeza Ashanti, foram libertas e voltaram ao poder sob a proteção inglesa. Prempeh foi colocado como representante do Reino em suas terras.
      Uma curiosidade sobre seu relacionamento com nosso fundador é que o próprio Prempeh se tornou o primeiro Escoteiro Chefe dos Escoteiros de Gana.

Prempeh e os lider após o batismo.

      Então, diante de tudo isso, vemos que a famosa cerimonia bem como muita coisa por traz da romântica estória do aperto de mão não são reais. Não culpando aqueles que um dia quiseram trazer algo a mais e nem questionando os seus porquês, fica a indagação. 
     Vai continuar a contar estorinhas para seus meninos ou vai contar a história do mundo real? A fim de prepará-los como “homens de verdade” para um mundo de verdade. Sem nota de roda pé uso o termo entre aspas usando jargão como B.-P. se referia aos bons cidadãos em seus livros, mas isso é uma outra história. 

     A história do aperto de mão escoteiro, vamos ao cerne da questão.


      Existem pelo mundo 3 diferentes estórias do aperto de mão escoteira e vamos ver as suas origens assim você escolherá a sua.

      A primeira foi essa envolvendo Prempeh e B.-P. a qual vimos é fantasiosa e foi criada pelo Lord Rowallan no Livro o “Aperto de mão esquerda.” Datado de 1946.

      A segunda do anuário escoteiro de 1960” Sydney R. Brown diz que no oeste africano o aperto de mão esquerda é uma distinção reservada ao Chefe e seus seguidores de confiança e Baden-Powell introduziu no movimento escoteiro e desde sempre é explicado que os escoteiros apertam as mãos desta maneira porque essa é a mão mais próxima do coração. Essa ultima explicação não se aplica, por simples constatação que todas as referências de B.-P. no simbolismo escoteiro sempre as conectou com algo transcendental nunca ao mundo material.

      A terceira vem do livro “Olave Baden-Powell” escrito por Eileen Wade em 1971, que diz que o fundador usava a estória de duas tribos na África que viviam em constante guerra, e subitamente o coração de um dos reis mudou. Ele veio até a fronteira entre as tribos e se encontrando com o outro ali colocou abaixo o escudo e estendeu de mão esquerda em sinal de amizade, dizendo isso é prova que estou desarmado em um novo espírito. O outro chefe fez o mesmo e apertou a mão, em sinal de amor e confiança por estarem agora debaixo da mesma Lei e promessa.

Prempeh no Exilio roupas tradicionais



     Em análise podemos dizer que Baden-Powell e seu grande amor pelos Africanos nos trouxe muito dos valores daquele povo. Podemos trazer como exemplo as cores escoteiras verde e amarelo, são cores africanas da época, o escudo Zulu ficou no formato dos distintivos de classe de B.-P. 
     É uma prática comum, para os africanos de vários povos do oeste e centro africano, o aperto de mão esquerda. O aperto de mão é algo que os guerreiros africanos naquela época só realizavam com quem realmente confiavam e isso tinha um valor imenso. Alguns povos acreditam que com a mão esquerda coisas sobrenaturais acontecem. Então podemos sim contar uma história sem modificar ou atribuir a uma pessoa algo que nunca fez. Prempeh pode até ter esclarecido isso a B.-P., ou ele pode ter observado ou aprendido os motivos e colocou como pano de fundo a história contada pela sua esposa a escritora Eillen, agregando assim o amor que nosso fundador tinha para com o povo Africano.

A história pode ser narrada assim...


     O aperto de mão escoteiro tem origem na cultura africana. Onde demonstrando respeito e confiança as pessoas apertam com a mão esquerda ao se cumprimentar. Baden-Powell costumava contar uma estória que duas tribos na África que viviam em constante guerra, e subitamente o coração de um dos reis mudou. Ele veio até a fronteira entre as tribos e se encontrou com o outro rei. Ele colocou abaixo o escudo e estendeu de mão esquerda em sinal de amizade, dizendo que era prova que estava desarmado em com um novo espírito. O outro chefe entendendo fez o mesmo e apertou a mão. Fizeram isso em sinal de amor e confiança por estarem agora debaixo da mesma Lei e promessa.

      Conclusão, muitos irão falar que nada mudou e outros vão querer saber mais sobre outras coisas. O que pretendia com tudo isso é dizer existem espaço para as estórias e para a História e nenhuma precisa suplantar a outra para ter a verdade. E a maior aventura da vida de B.-P. merece ser estudada.


Referencias:
Desenhos: Baden-Powell
Fotos: BMA, D-30.18.077 1917

Kreol International Magazine
The Downfall of Prempeh – R.S.S.B.-P.
Pathfinder Annual The Tames Publishing Co. London 1960
The left handshake – H. S. G. S.
Left-handedness and Stigmatization – A. B. A
National Archives of UK

Primeiro o princípio

       É muito bom dar para a geração que está chegando uma boa vida, mas se olharmos a nossa volta e a nossa frente, não podemos falhar em ver que existe algo mais importante que ajudar os rapazes a curtir sua vida sem responsabilidade, dando tudo pronto para eles. 

     Se “olharmos a volta” O que vemos? Guerras, assassinatos e mortes brutais, com toda a selvageria dos tempos primitivos. Uma religião totalmente ignorada por pessoas ditas civilizadas, mas com completa falta de autocontrole, influenciada pela coletividade e abertas aos mandos e desmandos de ditadores.

        Nós temos plena consciência, consciência essa que foi adquirida pelas experiências no mundo a nossa volta. Sabemos que o que é preciso um CARATER correto no povo, para assim sermos livres, vivermos pacificamente e sermos uma feliz nação. Nos “já alertamos antes”, mas estamos fazendo algo sobre isso? 
     Os poderes inescrupulosos do mal já estão trabalhando em meio ao nosso povo. Felizmente a letargia humana é difícil de mudar, existe um senso comum apático na maioria dos nossos compatriotas. As atitudes modernas como a pressa e a agitação, bem como o crescimento da comunicação entre as nações do mundo, traz um senso de inquietação e com isso o perigo deste contágio. As mentes tem ficado suscetíveis a todo tipo de hipnose coletiva. 

      Há sinais atualmente entre o nosso povo do aumento da falta de autocontrole o que era uma qualidade de nossa nação. O número de assassinatos e suicídios, o desejo de sucesso, bem como a mórbida e histérica atitude que atrai multidões a um funeral ou a chegada de um ator de cinema. Todas as setas apontam para esta direção. 
     Essas são características ruins em um povo que pode, de fato, está fadado a enfrentar graves crises nacionais no futuro próximo, onde o autodomínio e a lealdade serão vitalmente essenciais. Isto recai sobre nós do escotismo.
      Portanto, para levantarmos enfrentarmos isto tudo nós temos primeiro que nos corrigir, passando a ensinar CARATER a essa próxima geração, para assim manter e desenvolver o autocontrole e o senso de serviço comunitário que é marca do bom cidadão. Nos queremos educar a juventude de uma maneira prática fazer o melhor das suas vidas. “Onde o contentamento vive o comunismo morre.” 

     Eu tenho usado a palavra “educar” ao invés de “ensinar”. Eu quero dizer que nós temos que inspirar cada jovem individualmente a desenvolver estas qualidades por eles mesmos e não impor sobre eles meras instruções. Estas alterações são ruins, ainda mais sobre o velho terreno dos nossos princípios, os quais tem sido os mesmos desde o começo do Movimento. Quando começamos o escotismo era tudo feito sobre um simples esquema que com o passar dos anos se tornou um monte de interpretações e linhas paralelas adicionadas a o escotismo, isso traz o risco de se tornar sobrecarregado. E a ideia do método original se perde de vista.
     Surgiu o perigo de o Movimento se tornar muito acadêmico, exigindo altos padrões de eficiência, testes e tudo mais. Temos que ter cuidado com isso.

       Para os escotistas eu gostaria de levantar serias considerações sobre os planos de adestramento em duas áreas principais: A Saúde Física e Caráter. 
     Sobre Saúde física, esta não se dá através de series de exercícios, mas ao contrário, acontece em atividades e jogos escoteiros que tem um apelo real dos jovens e também pela sugestão prática de sua auto responsabilidade. Onde ele sozinho zela por sua saúde, através de uma dieta correta, descanso e exercícios.   
     Sobre caráter, este é desenvolvido através da atração do jovem pelo campo e pelas atividades de patrulha. No campo o Chefe Escoteiro tem sua grande oportunidade de observar e entender as características individuais de cada jovem, aplicando assim a direção necessária para seu desenvolvimento de forma individual. Enquanto os jovens por eles mesmo formam seu caráter através da vida nos sub campos, com disciplina, desenvoltura, engenhosidade, autossuficiência, habilidades manuais, pioneirias, navegação, espirito de equipe, conhecimento da natureza, etc. Tudo isso pode ser aprendido sob a direção alegre e simpática de chefe escoteiro bem formado.

     A patrulha é  a escola de caráter para a pessoa. Para o Monitor isto se da através da prática da responsabilidade e das atividades de liderança. Para os demais escoteiros ensina-se subordinação ao interesse coletivo, a abnegação e o autocontrole tudo envolto no espírito de grupo cooperativo e da boa camaradagem.

     Nós temos centenas de milhares de garotos e garotas em nossas mãos neste momento e existem outras centenas de milhares mais que precisam de treinamento, se pudéssemos ao menos encontrar líderes capazes o bastante para trabalhar com eles e fazer atividades suficientes para traze-los para nosso grupo.

     Existe um campo imenso aberto para nós e que pode nos levar a um caminho de grande desenvolvimento. Não precisamos ficar deprimidos com contratempos ou desapontamento, esses são muitos, e aparecem de tempo em tempo. Este é  simplesmente o tempero do nosso progresso, faz-nos crescer mais que os nossos problemas e olhar exatamente onde estamos. Nós temos que nos investir da nossa nobre tarefa, que só precisa de um pouco mais de coragem e persistência para assim alcançarmos o sucesso. Vamos fazer isso com o prazer da aventura em meio a estes tempos perigosos, construir com a ajuda de Deus uma raça valiosa de jovens cidadãos para a segurança, honra e bem-estar do futuro de nossa nação.



E disse B.-P. ..

     Eu temo que a perigosa existência de um tipo de escotismo sintético tome silenciosamente nosso treinamento, mudando a forma natural descrita no Escotismo para Rapazes. Eu gostaria de solicitar que os Comissários distritais prestem atenção nisto durante suas inspeções e que corrijam esta tendência ao se deparar com ela.
     Por “Escotismo sintético” eu entendo como o sistema escoteiro obscurecido pela sobreposição da forma natural por regras e literatura instrutiva, tomando conta do original, ou seja, a transformação do jogo ao céu aberto em uma ciência escoteira e um currículo escolar para o rapaz.
Agosto de 1936

Neil Armstrong o primeiro escoteiro a acampar na Lua

Foto Oficial da NASA

O título de primeiro homem na lua, apenas uma pessoa pode reivindicar - Neil Alden Armstrong.

Em 20 de julho de 1969 às 23:56:15 horário de Brasília, Neil foi a primeira pessoa a pisar na Lua. Enquanto ele é lembrado pela a maioria por este momento, houve um tempo em que Neil era conhecido por razões mais práticas, como sua ética, seu senso de honra e seu amor pela matemática e pela ciência.

No filme Primeiro Homem, as realizações de Neil como astronauta são destacadas. No entanto a parte de maior aprendizado na vida não é tão conhecida. Saiba mais sobre um dos mais famosos Eagle Scouts Americanos. (Eagle Scout é o grau máximo no escotismo americano.)

Um Grau Máximo no espaço


Neil Alden Armstrong nasceu em 5 de agosto de 1930. Ele era astronauta e engenheiro aeronáutico que foi a primeira pessoa a andar na Lua. Ele também era aviador naval, piloto de testes e professor universitário. Mas antes de tudo, ele era um escoteiro.
Neil e ao seu lado Chefe escoteiro e pai

A história de Neil como escoteiro começa na cidade de Sandusky, Ohio. Os garotos da Tropa 25 podiam ser encontrados frequentemente em reuniões e acampamentos. Todos os garotos, exceto Neil. "Ele estava submerso nos manuais aprendendo coisas como semafora (Código de bandeiras) e os primeiros socorros", disse um de seus companheiros de tropa à revista Scouting em sua edição de março-abril de 1970.

O irmão mais novo de Armstrong, Dean, disse à revista Scouting o que o "moonwalker" aprendeu em seus anos de escotismo.

"Ele era quieto e menor do que a maioria de seus colegas no ensino médio", disse Dean Armstrong. "O escotismo o ajudou a ganhar confiança em si mesmo."

A trilha para o Grau Máximo


Neil Armstrong também era um estudante sério e dedicado. Ele amava matemática e ciência e “devorava livros”. Na verdade, o segundo distintivo de especialidade que ele conquistou como membro da patrulha Águia foi a de Leitura. (A especialidade de artes foi seu primeiro.) Essas habilidades mais tarde se tornariam muito importantes para Neil em sua carreira como astronauta e engenheiro.

Neil no dia do recebimento do seu Eagle Scout
Neil Armstrong não parou nos 21 distintivos necessários para o Grau Máximo. Ele terminou com 26 especialidade - incluindo as de Estudos Acadêmicos, Aviação, Exploração e Pioneiria. Infelizmente para Neil, o selo de mérito da Exploração Espacial não foi criado até 1965 - ano em que completou 35 anos.

No entanto, o Conselho escoteiro da região que Neil pertencia na época, o Conselho de Shawnee de Lima, OH, concedeu-lhe o "Distintivo Honorário da Especialidade Exploração Espacial". É foi datado no dia em que ele pousou na lua.

Neil também completou a trilha para Eagle Scout e se tornou um Grau Máximo. Ele estava determinado a seguir o exemplo de seus dois amigos escoteiros, que conquistaram suas graduações máximas antes dele - mesmo que isso significasse fazer malabarismos entre as atividades escoteiras e a universidade.

Este forte espírito competitivo é claro nas lembranças de seu colega e membro da Patrulha Lobo, K.K. Solacoff, que acredita que essa motivação levou Neil a completar seus requisitos de grau máximo quando já tinha 17 anos e na Universidade de Purdue - bem mais tarde do que a maioria dos escoteiros normais, que geralmente conquistavam o grau máximo ainda na escola secundária.

E assim ele ganhou a maior honraria do Escotismo aos 17 anos. Isso é mais impressionante quando você percebe que os Eagle Scouts de 17 anos eram raros na década de 1940. Naquela década, a idade média que um jovem ganhava era de cerca de 14,5.

A maioria dos calouros universitários perde contato com o Escotismo até que eles tenham seus próprios filhos. Mas não Armstrong.

Um escoteiro é digno de confiança (e trabalhador)

Neil sempre foi um ótimo exemplo de um bom escoteiro e não foi exceção à lei “O escoteiro é digno de confiança”.

Neil Pata Tenra
Enquanto fazia a jornada de 32 quilômetros para a especialidade de Hiking, Neil entrou em pânico quando checou o relógio e notou que a caminhada estava demorando mais do que o planejado. Se ele não se apressasse, ele estaria atrasado para o seu trabalho na padaria - comportamento inaceitável na mente deste jovem escoteiro.

"Então, ele decolou no passo escoteiro, alternadamente correndo e andando" e chegou ao trabalho na hora certa, depois de caminhar e correr o resto de seus 20 quilômetros, disse seu amigo K.K. Solacoff.

"No momento em que chegamos em casa, não estávamos apenas exaustos, mas tínhamos cãibras dolorosas nas pernas", diz Solacoff.
O trabalho era apenas um fato da vida cotidiana de Armstrong. O primeiro trabalho de Armstrong foi cortar grama no cemitério local. Seu pagamento: 25 centavos por hora.

"Se você queria algo, era melhor trabalhar", disse Dean Armstrong. “Todo mundo começou a trabalhar quando tinha 8 ou 9 anos - e nós simplesmente nunca mais paramos. E sempre estivemos empregados.

E assim, quando Neil, Michael Collins e Buzz Aldrin pousaram na lua em 20 de julho de 1969, aqueles os quais lhe conheciam , não estavam surpresos. Eles já esperavam que este Eagle Scout fizesse coisas fora do mundo.

"Seu fracasso teria sido uma surpresa", disseram seus companheiros de tropa.

Você pode ler esta história em sua forma original de publicação - na história do Escotismo “Um Águia na Lua” da edição de março-abril de 1970. O qual vamos traduzir para o seu deleite.

Um escoteiro herói

 Como um adulto, Neil foi reconhecido pela Boy Scouts of America com o Título de Distinto Eagle Scout e a comenda do Búfalo de prata.
Único artefato escoteiro a estar na Lua

Em 18 de julho de 1969, enquanto voava em direção à Lua, Armstrong cumprimentou os escoteiros. Entre os poucos itens pessoais que ele levou e trouxe com ele para a Lua estava um Distintivo Escoteiro.

Escoteiros que agora conquistam a especialidade de Exploração Espacial devem criar um cartão de colecionador sobre seu pioneiro espacial favorito. "Eu estou supondo que um monte deles selecione o melhor pioneiro espacial. O primeiro homem, o primeiro Eagle Scout na Lua ”







Nova ideologia de gênero no escotismo

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Estamos encarando hoje, também no escotismo, uma nova ideologia de gênero, onde as pessoas se auto intitulam, sem base alguma ser algo que não são, só por suas convicções pessoais. Sabemos que para a maioria deles é por puro desconhecimento do que seja uma coisa ou outra. Outros por simples má fé e com intuito de auferir algo particular.
Nos últimos dias tenho entrado em algumas discussões e embates na internet por encarar alguns escotistas fazendo o que é claramente errado, escoteiramente falando e ainda se vangloriando e induzindo outros ao erro.
Nos últimos anos após o sucesso da FET na prática do escotismo tradicional, vários grupos foram adotando essa forma de prática, mas alguns só se utilizam dos nomes tanto da FET quanto do escotismo tradicional para fins personalíssimos. Falamos isso porque tivemos registros destas práticas além de analisarmos as práticas escoteiras destes podemos ver que tem pouco ou nada tradicional.

Mas por que eles não devem ser considerados tradicionais?

Tradição é uma palavra com origem no termo em latim traditio, que significa "entregar" ou "passar adiante". A tradição é transmissão de costumes, comportamentos, memórias, crenças, para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos transmitidos passam a fazer parte da cultura.

Então se é a transmissão de costumes e comportamentos, de cara não cabe invenções, tradições não são criadas para serem tradições, são comportamentos aceitos comumente por todos e se transformam e hábito.
Então, o escotismo tradicional é a transmissão das práticas escoteiras que por décadas foram praticadas e de forma completa não somente as partes que se acreditam que sejam. E vamos mais ao fundo, não se pode dizer que algo é tradicional com mudanças de imagem, significado e método.
Para deixar mais claro não tem como ser escoteiro tradicional só porque usam lenço e um uniforme, sem ter recebido a transmissão do conhecimento de outras pessoas. Tem que se praticar o escotismo da forma mais original possível, cumprindo seus deveres de seguir e a Lei Escoteira, sendo digno de confiança e leal.

Quem não age como escoteiro, como escoteiro não deve ser tratado.

Podemos tomar como exemplo um estudante de seminário que sem o terminar ou terminando se auto intitula Ministro (Padre, pastor, etc) e começa  a praticar da forma que acredita.
 Ele pode fazer isso?
Legalmente sim, moralmente não é bem visto. Ele com certeza terá quem o siga e muitas vezes sem saber toda a verdade pro traz da vida desta pessoa e assim que descobrem podem sofrer desilusões tão fortes que misturam a pessoa com a fé e as instituições.
Da mesma forma estamos vendo isso acontecer no escotismo, associações se chamando ilegalmente de federações, uniões ou ligas. Digo ilegalmente, pois as mesmas não possuem nenhum registro formal em lugar nenhum, não possuem sede e alguns se dizem fazer parte de uma instituição sem pertencer, cometendo crime de falsidade ideológica. E ainda há a questão moral onde os seus dirigentes não possuem formação escoteira condizente e se auto intitulam os mais altos ranks escoteiros.

Diante destes acontecimentos levantamos alguns filtros para identificação de qual linha de interpretação escoteira a associação ou o grupo segue.

VISUALMENTE
Olhando o grupo de pessoas, verifique a forma de uso do uniforme e seus distintivos.
Neo escotismo – Usam o traje ou vestimenta como roupa cerimonial, ou seja, só nas ocasiões especiais. Os distintivos são bem coloridos e com aparência de logomarcas. Os jovens tem total liberdade de mostrar suas individualidades.
Escotismo tradicional – Usam uniforme em todas as ocasiões e estes tem aparência militar. Os distintivos são simples e significativos, iguais ou bem parecidos com os originais. Os jovens são levados a mostrar espírito de corpo e uniformidade.
Libero escotismo – Usam uniformes ou trajes, os distintivos alguns são logos outros se parecem com os originais. Não existe padronização definida usam símbolos diversos oriundos de diversas instituições não escoteiras, muitas vezes parecendo tradicional e outras neo escoteira.

FILOSOFICAMENTE
Neo escotismo – Aplica princípios neoliberais da educação, onde os escritos originais são apenas livros de inspiração. Definido com um programa de jovens, onde o jovem é responsável pela definição de suas tarefas, bem como a avaliação do êxito. Sistema de progressão atrelada a idade. Nomenclatura moderna, com atualização de objetivos e apresentações.
Escotismo tradicional -  Aplica-se a educação tradicional, onde os escritos originais são a base de tudo. Definido pelo programa escoteiro, onde é apresentado um mapa de desafios os quais os jovens são estimulados a vencer. É meritocrático e o plano de etapas está atrelado ao desenvolvimento individual. Nomenclatura escoteira, com base na tradição e idioma do país.
Libero escotismo – Aplica-se os princípios que cada associação acredita ser mais aplicável, usam parte dos escritos originais e parte pedagogias modernas. Fazem um mix do sistema de progressão, programa escoteiro e muitas vezes sistema religioso. Nomenclatura livre, podendo até mudar nomes como os de seção e até se abstendo do nome escoteiro.

Então diante destes pontos fica fácil nós entendermos quais correntes seguem, sem nos atrelarmos somente na definição ou sermos levados ao erro.
O ultimo alerta é quanto a real estrutura da instituição escoteira, chequem os registros legais, o background de seus dirigentes e a formação escoteira de cada um. Parece algo muito radical, mas nos últimos tempos estamos encarando instituições fantasmas onde não possuem personalidade jurídica ou reconhecimento governamental nenhum, outro se dizendo representantes de instituições nacionais ou internacionais, autointitulados Insígnia da Madeira, currículo escoteiro fake.
Estamos em um período de pluralidade associativa, o que é de certa forma boa, pois temos espaço para todos e por outro lado preocupante, pois alguns estão criando associações para o bem particular.
Ao meu entender se alguém sai de uma instituição e cria outra com fins idênticos, copiando P.O.R e manuais, se auto denominando uma linha ou outra é no mínimo duvidoso. Pois se a vontade é praticar o escotismo e ajudar os jovens e eu me alinho com o pensamento e organização de algo já existente. Por que gastar dinheiro e tempo para “criar” uma estrutura completa a não ser por satisfação própria?
Então se indague. O que estou fazendo pelo escotismo? E não. O que o escotismo está fazendo por mim?

Baden Powell Maçon


Sempre escutei de muitos, até de membros da Maçonaria que Lord Baden-Powell era maçon, fato nunca comprovado por nenhum deles. (falei com tios 33 e veneráveis).
Em pesquisa, um venerável que já havia ele mesmo feito a pesquisa, me disse que não há documento nenhum vinculando B.P a tal instituição.
De outro lado temos aqueles que apresentam suas provas como a foto que segue de um homem em foto família da Freemasonary London, onde eles identificam um dos homens na foto como sendo BP. No detalhe fica claro que não se trata de nosso fundador.

BP em Mafeking
Suposto BP na foto que segue


Freemasons London


Sua filha Betty quando peguntada também afirmou que seu pai não fez parte da irmandade.

Não existindo, até então, nenhuma imagem de nosso fundador paramentado como um Ir.’.

Como estudioso do escotismo fui verificar no dia a dia de BP e de seus ancestrais algo sobre isso e nunca identifiquei nenhuma informação que colocasse ele entre colunas.

Como filho de pastor e homem educado sob a égide Cristã Protestante, não seria compatível para ele tal associação. Ao analisar o escotismo original vemos a tradução de práticas Cristãs para o escotismo e não de rituais maçônicos, estes foram integrados durante o tempo de vida do escotismo patrocinado por lojas Maçonicas e levada as práticas para todo o mundo.
Muitos irão questionar varias coisas como a Corte de Honra, fazendo paralelo com a maçonaria, algumas cerimônias que são praticadas hoje em dia e vão estar certos, algumas são praticas maçônicas trazidas por alguns que gostariam ter os escoteiros como um braço Demolay.
Outros irão trazer as lojas maçonicas com o nome do fundador bem como as com Rito Escoteiro, mas isso foi influência reversa do escotismo na maçonaria.
Mas acima de tudo as práticas são cristãs, como a forma de ensinar através do discipulado, o trabalho com poucos ao invés da multidão, o auto aprendizado, a não limitação do conhecimento da verdade, podendo ir até na grande comissão aplicando no dia a dia do escoteiros a forma de fazer missão que Jesus instituiu.

Então resta claro que como outras informações multiplicadas por muitos no escotismo devem ser estudadas e esclarecidas.
Sempre Alerta

Padronização de etapas

Em face ao bem elaborado currículo que foi recentemente desenhado por uma autoridade, na padronização de testes para as insígnias, eu fui obrigado a criticar neste sentido:
“Eu espero que os compiladores não tenham perdido de vista o compromisso e o espírito do Movimento, o transformando em uma escola de treinamento de eficiência através do sistema de etapas, marcos e padrões.”
“ Nosso compromisso é meramente ajudar os rapazes, especialmente no fim da vida escolar, a se tornar pessoalmente entusiasmado em matérias que o atraia e que será útil para ele.
Nós fazemos isso através da diversão e alegria do Escotismo, pelos progressivos estágios ele pode ser levado naturalmente e inconscientemente a desenvolver por si mesmo o conhecimento.
Quando o ter supera o ser.
Mas se nós o transformarmos em um esquema formal de instrução séria e por eficiência, perdemos todos os pontos e o valor do treinamento escoteiro e nós caímos na vala do trabalho das escolas sem os especialistas treinados para executar.
Nós temos que lembrar que os Chefes Escoteiros são lideres voluntários do Jogo Escoteiro e não professores qualificados e que depois dará a eles um rápido programa de estudos e assim minar seu ardor e originalidade em lidar com seus rapazes de acordo as condições locais.
Eu posso imaginar isto assustando muitos chefes corretos.
O Programa é uma sugestão que parece levar a um bom acordo que prescreve uma dose de Escotismo para Rapazes e se as proporções dos ingredientes receitados na prescrição não forem para você não poderá acusar o doutor se o remédio não funcionar.
Nosso padrão para a conquista de insígnias, como eu tenho frequentemente dito, não é o atendimento de certo nível de qualidade do trabalho (como na escola), mas ao MONTANTE DE ESFORÇO FEITO INDIVIDUALMENTE PELO CANDIDATO. Isto traz o mais deseperançoso caso em pé de igualdade com o mais brilhante ou irmão em melhor condição.

Nós queremos levar TODOS através do alegre autodesenvolvimento interno e não através da imposição de uma instrução formal externa.

Baden-Powell, The scouter.

Onde o exercício militar falha

Vejo em um dos jornais recentes que alguém se revelou como o inventor original do Escotismo. Este é o quarto em que agiu assim em quatro anos. Tenho para mim que o fundador original, Epictetus(2), morreu muitas centenas de anos atrás.
Este em particular fala que nós pervertemos os ideais originais dele e que não somos suficientemente militarizados.
A verdade é que esses cavalheiros vêem uma semelhança em nossa tropa com algo que eles imaginaram para eles, mas não estudaram a fundo e não puderam perceber, portanto, seu significado ou suas possibilidades.
Qual nosso objetivo? Eles parecem não considerar isto como alguma coisa importante no argumento deles. Mas acontece que é a pedra angular na qual a questão se apóia.
Nosso objetivo é pegar os jovens e abrir suas mentes, revelando o caráter de cada rapaz (e não há dois exatamente iguais), fazendo-os bons homens, para com Deus e sua pátria, encorajando-os a serem trabalhadores enérgicos e serem honrados, varonis e com sentimento fraterno uns com os outros.
Como o nosso Movimento atrai todas as classes ( os mais pobres têm iguais chances e consideração tanto quanto os mais afortunados), muita da desigualdade humana do presente será transformada em valorosa cidadania. É pelo caráter de seus cidadãos, e não pela força de seus braços, que um país se mostra superior em relação a outros.
B-.P em revista aos lobinhos


Se pudermos instigar aquele caráter e senso de fraternidade em todos os nossos jovens, em casa e nos domínios britânicos ultramarinos, estaremos forjando um elo mais forte do que o que une no momento o Império inteiro.
E como o Movimento torna-se firme, como está acontecendo também em países estrangeiros, promoverá um laço comum de simpatia que traz a paz entre as nações.
Nossas oportunidades e possibilidades nesse sentido são imensas, e estes são os objetivos que nossos Chefes Escoteiros têm ao planejar seu trabalho.
Mas nossos originais inventores aparentemente nunca pensam nessas finalidades. Isto certamente não poderão alcançar através do exercício militarizado mais do que poderiam alcançar ensinando seus avós a andar na corda bamba.
Pessoalmente não ousaria falar disto não fosse por ter alguma experiência nesse assunto em particular. Uma boa parte da minha vida foi gasta treinando rapazes para serem soldados, cadetes ou Territorials (3), e servi com todos eles na ativa em mais de uma campanha. Tive oportunidade de ver os cadetes novamente na África do Sul e Canadá, e, nos primeiros tempos na Nova Zelândia e Austrália. Estas visitas me confirmaram a opinião que então expressei, ou seja, aquela que com o excelente material que encontramos em nossos jovens por todo o Império é bastante possível mandar para fora uma impressionante força de cadetes, todos habilidosos em manobras, cheios de autoconfiança, fardados com esmero, e com alto percentual de atiradores de elite. Mas muitas pessoas parecem achar que homens bem treinados são necessariamente bons soldados. Eu os testei em serviço e tive pouco uso para eles. Quanto melhor o soldado é exercitado em ordem unida, menos pode-se confiar nele para agir com responsabilidade individual.
A chamada disciplina era muito competente para impor neles o medo pela punição ou reprimenda, em vez de impor o espírito de agir corretamente. E este é essencial, se você não quer meramente dar um verniz de obediência, que não resiste a um teste de serviço.
Estas coisas, e muitos outros atributos do bom soldado, que podem ser resumidos na palavra caráter, devem ser instilados neles antes de poder considerá-los adaptados para o treinamento militar em ordem unida. Este é, na realidade, o polimento final, e não, como muitos parecem pensar, o primeiro passo para fazer um homem batalhador.
Os Boers nunca foram treinados militarmente, contudo se mostraram bons lutadores, e resistiram a nossas tropas treinadas em uma campanha de mais de dois anos.
Por que isso aconteceu? Porque eles tinham o lastro apropriado de caráter para a tarefa – eles eram independentes e diligentes, especializados em usar melhor sua coragem, bom senso e astúcia, (os três que fazem um bom soldado – coragem, senso comum e destreza). Aqueles homens só precisaram de um polimento final de ordem unida e uma disciplina um pouco mais forte para torná-los muito melhores soldados.
Esta é a seqüência de treinamento necessária. Se você aplica o sentido contrário, obtém somente o aspecto atraente. Você precisa, como essência, primeiramente ter o caráter estabelecido como seu lastro de trabalho.
Agora, qual é o objetivo dessas pessoas que querem treinamento militar em seus jovens?
Ordem unida nunca fará um bom cidadão, o que é bastante óbvio.
O objetivo deles deve ser então (a) fazê-los soldados em potencial para eles e (b) pegar os jovens com fascinação por ordem unida e assim trazê-los debaixo de alguma forma de disciplina e exercícios que são bons para eles.
No primeiro caso é essencial que os Chefes Escoteiros tenham instrutores excepcionalmente bons, caso contrário o ensino de disciplina nas paradas uma ou duas vezes por semana provavelmente não terá um efeito muito duradouro no caráter dos rapazes, e também o treinamento enfraquece no jovem depois de algum tempo e o afasta de tornar-se um soldado mais tarde. Se ele se engaja pensando que sabe tudo sobre o assunto, seu espírito, acostumado com o sofrimento temporário, ressentir-se-á com a disciplina quando estiver sob uma coisa tão real quanto permanente.
Como Oficial, simpatizo totalmente com alguém que disse que preferiria ter recrutas que nunca foram treinados, a esses que descreveu como "pães meio assados, que estavam crus, foram amassados novamente, e assados de novo antes que fossem bons soldados".
Em todo caso os líderes desses jovens poderiam aconselhá-los melhor a se tornarem cadetes genuínos e não mascará-los como Escoteiros.
No outro caso (b), a atração e treinamento de jovens rebeldes é certamente mais recomendável, e de longe o meio mais fácil para lidar com eles no que diz respeito ao comandante.
Mas então porque não unir-se à Associação Cristã de Moços ou aos Jovens da Igreja, cujo treinamento segue aquela direção?
B-.P saúda jovens facistas
Por transformarem nossa roupagem, mas não nossos idéias, ele espalham falsos conceitos sobre nossas intenções. Os pais e o clero supõem naturalmente que a arte militar é o fim e o objetivo do treinamento Escoteiro, e reagem de acordo. Eles não percebem que estamos trabalhando em um plano muito mais alto que aquilo, ou seja, fazer bons e bem sucedidos cidadãos.
Claro que há muitos Chefes Escoteiros em nosso Movimento que gostariam de dar um tom definitivamente mais nacionalista no treinamento de seus jovens. Eles acham que os jovens por si mesmos não percebem que o treinamento do caráter deles como escoteiros será a base de melhor qualidade para atingir metas futuras, seja ela tornar-se um soldado ou marinheiro, cidadão ou colono.
(Uma pequena prova nesse sentido é encontrada no Corpo de Cadetes dos Domínios Ultramarinos. Eu fui inspecionar os Cadetes, e encontrei algo em torno de 80 por cento de Sargentos Cadetes que foram Escoteiros de início.)
Bem, eu estou completamente de acordo com o sentimento de parte de nossos Chefes Escoteiros, e penso que encontrarão uma abertura no novo esquema dos Escoteiros Senior que agora está sendo criado, quando, com a base estabelecida e os jovens com idade para julgar por si mesmos, eles poderão seguir em alguma das linhas colocadas acima que possa atraí-los.

Janeiro de 1914

(1) Were Drill Fails (onde a ordem unida falha) – Drill: ordem unida.



(2) - Epiteto, em grego: epiktetos, "comprado" (* em Hierápolis, Frígia 55 - † Nicópolis, Épiro 135) foi um filósofo grego estóico que viveu a maior parte de sua vida em Roma, como escravo a serviço de Epafrodito, o cruel secretário de Nero que, segundo a tradição, uma vez quebrou-lhe uma perna. Apesar de sua condição, conseguiu assistir as preleções do famoso estóico Gaio Musônio Rufo. De sua obra se conservam um Enchyridion, o "manual de Epiteto", e alguns discursos - editados por seu discípulo Flavio Arriano. Como viver um vida plena, uma vida feliz? Como ser uma pessoa com boas qualidades morais? Responder a estas duas perguntas fundamentais foi a única paixão de Epiteto. Embora suas obras sejam menos conhecidas hoje em função do declínio do ensino da cultura clássica, tiveram enorme influência sobre as ideias dos principais pensadores da arte de viver durante quase dois mil anos.Para Epíteto, uma vida feliz e uma vida virtuosa são sinônimos. Felicidade e realização pessoal são consequências naturais de atitudes corretas.